27 de abr. de 2006

Week end - Um filme proibido para menores de 18 anos

1967 – Ano que foram lançados em Londres os discos Are You Experienced – Jimi Hendrix , The Piper At the Gates of Dawn (sob os ouvidos de Syd Barret), Sgt. Pepers Lonely Hearts Club Band (Beatles), Their Satanic Majesties Request (Rolling Stones), e o filme Week end, de Godard. Um ano antes da nominada “revolução” de maio de 68, em Paris. O diretor da Nouvelle Vague viria no mesmo ano filmar o clássico maoísta La chinoise e 2 ou 3 choses que je sais d'elle, três filmes deveras importantes para sua carreira como cineasta – e sem dúvidas, filmes que dão a Godard o reconhecimento de cineasta da esquerda francesa.

No que se chama de cinema político, Godard atuou com seu dinheiro, densidade teórica, força e comunicabilidade para modificar a percepção que se tem do mundo. Qualquer espectador dos filmes dele entende que não há condições de ser conduzido continuamente por uma estrada linear das histórias contadas. Godard não é ácido somente com o cinema americano, mas com o modo de ver pragmático e técnico americano. Isso ele diz através das personagens. Mas ele não diz diretamente que o próprio cinema hollywodiano que ele critica usa a técnica da maneira mais bela que se pode existir, considerando os demais contextos. Apesar de saber disso, Godard trucida de maneira cautelosa o mais atento cinéfilo, aquele que se deslumbra com os takes cinematográficos, chora com as músicas melosas, e aposta nos climas psicológicos. O que o diretor faz com o comportamento imposto via Plano Marshal na Europa é simplesmente inigualável. Ele nos faz absorver uma briga cultural e poética, contra uma imposição unidimensional da cabeça conservadora norte-americana.

Mas, ainda sim, Godard não era tão, digamos, consciente da política até este ano de 1967. Made in USA é forte no título, mas brincalhão comparado aos tiros disparados em Week end. A burguesia francesa sai para um fim de semana usual, mas encontra ao longo da história do filme carros virados em chamas, gente morta, violência, afinal. O casal burguês queria só um fim de semana, mas encontra um FIM de semana.

Este casal que serve como ponto de vista do espectador, encontra tudo, menos a paz que procuram. O filme não os deixa quietos, o épico episódico de uma maneira que chega a envolver o que Brecht teorizava, e ultrapassar os limites do distanciamento para numa curva ao longe reencontrar com a identificação – neste caso uma identificação à revolução eminente.

Desde poesia até a música, da fotografia ao próprio cinema – a arte não se segura neste assassinato do que se entende pelo conceito. Nas ruas os jovens pichavam sobre a morte da arte, e conclamavam a violência contra os condicionamentos burgueses. No filme vemos as palavras mais batidas como palavras de ordem ganharem em força estética.

De sobressalto, um filme como Week end visto hoje não gera nada a não ser um ranço de nostalgia, ou melancolia pelos tempos imbecis pós-modernos. Estes que, ironicamente, Godard ajudou a criar. Entretanto, não juntemos a falta de preocupação com o mundo dos americanos, junto às peripécias malabarísticas de câmeras caras, com a intervenção direta dos filmes de Godard. Este, diretor do fim do cinema, não estetiza a política – ele tenta recriá-la, dentro dos padrões aceitos. Nada que uma boa dose de paciência não faça os atenciosos ao Oscar entenderem que na Europa, uma luta existe. Apesar de, em Week end, parecer estar no cosmos.

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