11 de ago. de 2008

Em Cartaz: "O ESCAFANDRO E A BORBOLETA"

Preste atenção! Seu nome é Jean-Dominique Bauby. Você tem 43 anos e é redator-chefe de uma famosa revista francesa de moda. Descolado, irreverente, cínico. Pode ter as mulheres que quiser. E há uma que você ama, no momento. Também tem três filhos de uma relação anterior, de uma mulher que você provavelmente despreza, porque ela ainda o ama. Mas há algo errado. Num instante, tudo isso acaba.

No instante seguinte ou, se preferir, 20 dias depois, ou seja, no instante seguinte em que você readquire consciência, está num lugar estranho, várias pessoas ao seu redor, mas não consegue definir bem. Espere! Um homem fala com você. É um médico. Você está no hospital, em uma cama, sofrendo de Locked-in syndrome (sindrome de trancamento), termo que nunca ouviu falar. É uma consequência de um AVC. Você só vê o mundo com o olho esquerdo. Nenhum movimento mais.

É assim que começa o novo filme de Julian Schnabel, O Escafandro e a Borboleta. Para quem não está familiarizado, o diretor é também artista plástico e já dirigiu dois outros filmes, Basquiat - Traços de uma Vida e Antes do Anoitecer, ambos contando histórias de personas reais, respectivamente, o controverso pintor Jean-Michel Basquiat e o escritor cubano Reynaldo Arenas. Em seus primeiros 40 minutos, aproximadamente, tudo o que vemos na tela é reproduzido de forma a nos colocar no lugar de Bauby - uma câmera colocada no rosto do ator Mathieu Amalric é responsável por simular a visão do olho esquerdo do personagem. Nem sempre vemos tudo nitidamente. Mérito de Janusz Kaminski, diretor de fotografia de diversos filmes de Steven Spielberg. Somente depois é que podemos ver o rosto de Bauby ou, se preferir o leitor, depois de ver o filme, Jean-Do.

O filme é uma grata surpresa, pois, antes de assistir, eu esperava alguma espécie de manual de auto-ajuda sobre como seguir vivendo após um acidente podendo se expressar apenas com o olho esquerdo, mas não. Tudo que nos é mostrado está "temperado" com a experiência única de Schnabel como artista plástico e com as impressões sarcásticas de Bauby acerca da vida antes e a partir do momento em que acorda do coma. É, nosso redator escreveu um livro contando tudo isso, livro este que foi base para o filme, tanto que ambas as obras possuem o mesmo nome.


O esforço de recuperar-se para escrever este livro é a matéria-prima do filme, assim como as relações que Bauby mantinha com as pessoas: a ex-mulher, os filhos, os amigos, a namorada, o pai - este vivido pelo veterano Max von Sydow. Claro que Bauby não fará sozinho esta caminhada em busca de expressão, pois conta com o apoio de especialistas do hospital. Um método que se baseia nas letras mais utilizadas no idioma francês é posto em prática e tudo o que Jean-Do tem de fazer é piscar, de acordo com a necessidade. Após os primeiros avanços em comunicação, é a partir daí que o livro começa a tomar forma. E assim segue o filme, entre uma comoção e uma sacada espirituosa, mas nunca caindo no lugar-comum "auto-ajudista". E ainda sobra espaço para uma observação cínica sobre o catolicismo.

Sim, é provável que o leitor se lembre de outra película, a do Amenábar, Mar Adentro, também baseada em fatos reais. A diferença está na postura dos personagens. Enquanto um opta pela morte, outro opta pela vida, ainda que limitada num escafandro, como bem define o protagonista. Sem julgamentos - cada qual sabe onde a vida lhe dói mais. E, mais importante aqui que as comparações, é ressaltar o trabalho do ator. À exemplo do bom trabalho de Bardem, Amalric está soberbo na pele do que sofre o infortúnio. E pensar que era Johnny Depp o escalado para ser Bauby. Como seria? Nunca saberemos. E não importa. É ótimo assim como está.


As borboletas saem de seus casulos e o leitor, após sair da sala de cinema, terá uma expressão de satisfação no rosto. Assim espero.

3 comentários:

Bibi. disse...

O filme é realmente belo!

Tatta barboza disse...

Agora fiquei com mais vontade ainda de assistir. Amanhã é dia!
bjos!

Anônimo disse...

Não gosto de Julian Schnabel. Seus dois primeiros filmes são fracos. "Antes do anoitecer" se salva pela atuação de Javier Bardem.

Mathieu Amalric, por sua vez, é um dos melhores atores europeus da atualidade. Para mim, ele e Romain Duris estão no topo da novo geração.

Gosto muito da atuação de Mathieu Amalric em "Reis e rainha", um dos melhores filmes do cinema francês contemporâneo.

E, sinceramente, o ponto negativo, Julian Schnabel, acaba me desanimando a ver o filme.

Quando "O escafandro e a borboleta" chegar nas locadoras, talvez me anime.

 
Free counter and web stats