12 de dez. de 2008

100 Anos de Manoel de Oliveira: "CRISTÓVÃO COLOMBO - O ENIGMA"

Hoje, oficialmente, Manoel de Oliveira, completa 100 anos. Oficialmente porque ele nasceu em 11 de dezembro de 1908, mas foi registrado apenas no dia 12. O diretor mais velho em atividade construiu uma obra que não é velha. Atuante desde os anos 30 do século passado, viu e segue vendo o desenvolver de uma arte, boa parte de suas técnicas, os movimentos, os autores, atrizes e atores. Assim como ele, seu cinema permanece lúcido e capaz de atrair algum público, ainda que seleto, em diversas partes do mundo.

Enquanto eu, nesta semana, assistia a Cristóvão Colombo - O Enigma (França/Portugal, 2007), ele estava "em campo" pra filmar seu atual projeto, Singularidades de uma Rapariga Loira, baseado em conto de Eça de Queiroz. Mas voltemos à Cristóvão Colombo, o primeiro que o diretor realizou com tecnologia digital. Tal demonstração de interesse pelas novas tecnologias ajudam a provar sua vitalidade, assim como o fato do próprio diretor e sua esposa terem atuado no filme também o faz.

Cristóvão Colombo - O Enigma é baseado no livro de Manuel Luciano da Silva, Cristovão Colon Era Português. O autor do livro é o personagem principal e a experiência de assistir ao filme nos leva a observar duas trajetórias distintas: a da investigação sobre as navegações lusitanas pelo autor, além de sua própria trajetória de vida.

Assim como toda a carreira do diretor português, o filme atravessa os tempos. Começa na década de 1940, quando os jovens irmãos Manuel Luciano (Ricardo Trêpa) e Hermínio (Jorge Trêpa) embarcam pra Nova Iorque. Lá eles se instalam e Manuel Luciano se torna médico. Mais que isso, torna-se um investigador das navegações portuguesas no período em que a América foi "descoberta" e, sobretudo, de questões que concernem à nacionalidade de Cristóvão Colombo. Defende e investiga a teoria de que Colombo não era genovês e, sim, português e natural de Cuba, cidade alentejana. Não à toa, uma das ilhas que Colombo "descobriu" quando chegou à América foi batizada com o nome da cidade portuguesa.

Já em 1960, Manuel Luciano desposa Silvia (Leonor Baldaque) e, com ela, vai à cidade de Cuba. As investigações são sua grande paixão e, mais tarde, em 2007, quando o casal passa a ser interpretado pelo próprio Manoel de Oliveira e sua esposa, Maria Isabel de Oliveira, Silvia irá conversar com Manuel Luciano sobre o fato de ter de competir com esta grande paixão. Juntos, visitam os monumentos que referenciam a presença de Colombo, tanto na América como em Portugal.

Manoel de Oliveira/Manuel Luciano lamenta a pouca importância que as instituições e o povo dão ao resgate da memória portuguesa das grandes navegações e compara o período das grandes aventuras lusitanas no além-mar com a corrida espacial levada a cabo por EUA e União Soviética durante a Guerra Fria. Num dado momento, o investigador, ainda jovem e recém-casado, pergunta a uma senhora a respeito da casa onde teria nascido Colombo. Como resposta, obtem: "Cristóvão Colombo? Nunca ouvi falar e olha que já moro aqui há muito tempo".

Em toda sua trajetória, o investigador é também acompanhado por uma figura, um signo em forma de mulher jovem e em traje vermelho e verde - a personificação do orgulho lusitano (Lourença Baldaque). Poesias de Fernando Pessoa e de Camões, além de um belíssimo fado, temperam o prato que é a busca do casal Silva.


A busca pela real origem de Colombo torna-se, então, parte desse tema tão particular, a identidade portuguesa. Manoel de Oliveira, desse modo, presenteia-nos com um filme rico, simpático, tão capaz de inspirar uma certa nostalgia, ainda que não sejamos portugueses, mas apenas "filhos" de Portugal. Tudo isso sem deixar de ter um toque de contemporaneidade.

Torna-se vital, a partir disso, que façamos uma busca pela obra do centenário diretor.

Repercussão da pré-estreia de Cristóvão Colombo - O Enigma em Cuba do Alentejo

2 comentários:

Hudson disse...

Fiquei interessado no filme. Creio que a idéia do diretor é expressar um pouco da (atual e desde quase sempre) condição portuguesa, em busca das suas glórias e seus feitos, um espírito de "reconquista", a busca permanente por um identidade vencedora.

As alusões a esses fatores me instigaram a prestigiar o filme do centenário diretor. Ta anotado e já vou correr atrás.

Unknown disse...

Ah, mas ai está a beleza desse filme. Um reencontro com um Portugal que hoje mal existe senão da memória. O anjo vestido nas cores de Portugal é só mais um aspecto da saudosa melancolia que rege a indagação de Manoel sobre o esquecimento.
E o melhor é que o filme é engraçado e bem humorado. Nada como o lindo casal conversando sobre si(enquanto personagens), sobre colombo e sobre si (enquanto atores casados na vida real).

Um filme encantador e encantado, pois a linda velhice deles é um golpe em si no tempo.

(Viajei...mas Manoel sempre faz isso)

 
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