9 de dez. de 2008

Em Cartaz: OS ESTRANHOS

O mercado cinematográfico produz, a cada ano, uma quantidade enorme de filmes de terror. Com produções de baixo custo e a recorrência de boas bilheterias, muitos são os diretores iniciantes que se aventuram pelo gênero. Além do mais, basta pouco para satisfazer um crescente público sedento de sangue e do eterno prazer de sentir medo, seja no escurinho do cinema ou no aconchego e segurança da sala de televisão. Porém, essa profusão de histórias macabras tem esgotado a criatividade de roteiristas e diretores, que exploram situações e artifícios cada vez mais repetidos e, consequentemente, de pouco ou nenhum efeito, mesmo considerando que pregar sustos no espectador não é tarefa das mais difíceis. Ainda assim, esporadicamente algum diretor consegue driblar esse bloqueio criativo e produzir algo compensador. É o caso de Bryan Bertino e seu filme de estréia, Os Estranhos (The Strangers, EUA, 2008). O título soa tão clássico quanto o enredo: uma casa de campo, um casal apaixonado e uma repentina visita indesejada.

Logo no início, um letreiro informa que o filme é baseado em eventos reais, cujas circunstâncias e desdobramentos não foram bem esclarecidos. Porém essa é só uma inverídica colocação do diretor usada para aumentar a ansiedade do público. E é justamente em cima dessa mentira que Bertino conduz o filme magistralmente até o final, sem mostrar muita coisa e sem tentar explicar o que anunciou permanecer não explicado.

No dia 11 de fevereiro de 2005, o casal de namorados James Hoyt (Scott Speedman) e Kristen McKay (Liv Tyler) sai da festa de casamento de um amigo e vai para a casa de veraneio da família de Hoyt. Ainda no carro, percebe-se que o clima entre eles não é dos melhores: muito silêncio, lágrimas no rosto de Kristen. Na festa, o romântico James havia oferecido a Kristen uma aliança de noivado, mas ela recusara. Já na casa, enquanto descansam e trocam poucas palavras, alguém bate à porta. Mesmo assustados, pois é madrugada, eles abrem e uma moça pergunta por alguém desconhecido. Diante do suposto engano, ela aparentemente vai embora. Após o ocorrido, Kristen reclama que está sem cigarros e James sai para comprar. Sozinha, ela escuta a porta bater novamente. Quando James retorna, a situação já está fora de controle e o pânico começa a atingir proporções insuportáveis.

O isolamento de uma residência de campo sempre serviu de pretexto para acontecimentos sinistros. Ao mesmo tempo em que seus donos as procuram para passar momentos de tranquilidade, nelas eles permanecem mais vulneráveis. Em Violência Gratuita (Funny Games, Áustria, 1997) o diretor Michael Haneke usa dessa mesma condição para ambientar sua história. Mas diferentemente de Haneke, Bertino não pretende despertar em seu público o sentimento de culpa por deliciar-se com a desgraça alheia. Seu objetivo é menos pretensioso e mais simples: provocar medo. Essa tarefa cabe a três estranhos mascarados, um homem e duas mulheres que, apesar de serem de carne e osso, comportam-se como vultos e não pronunciam uma só palavra. Esse silêncio só é quebrado ao final, quando imobilizados diante dos malfeitores, James e Kristen perguntam por que estão passando por aquilo. A pergunta é óbvia e a resposta, curta. É praticamente uma brincadeira do diretor, que acaba colocando o filme em seu devido lugar. As tradicionais cenas de susto são constantes, porém menos aterradoras que as aparições silenciosas dos intrusos. Com boas atuações, um ótimo trabalho de câmera e economia total de efeitos típicos do gênero, Os Estranhos atinge com eficiência seu objetivo.

Os Estranhos - Bryan Bertino - EUA - 2007

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