
Aguirre, a Cólera dos Deuses (Aguirre, der Zorn Gottes, 1972) é o primeiro e quiçá, o melhor resultado da conturbada e exitosa parceria entre Herzog e o ator Klaus Kinski. A trama é baseada em fatos históricos ocorridos no século XVI, inspirada nas expedições enviadas pelo conquistador espanhol Gonzalo Pizarro em busca de El Dorado, a cidade de ouro, ainda sob o espírito da reconquista (herança ainda medieval das monarquias ibéricas). Egocentrismo, ganância, obsessão e submissão são os aspectos humanos em confronto com a natureza primitiva e desconhecida, paulatinamente permeados pela insanidade do personagem Aguirre (Kinski).
O narrador da expedição é Frei Carvajal, cujo diário foi fonte primária para o embasamento do filme. Don Pedro Ursua (Ruy Guerra) é o comandante da expedição, que configura a hierarquia dos colonizadores em suas conquistas na América Espanhola, um representante da coroa espanhola, nobreza, exército, igreja e os escravos indígenas. E essa exploração colonial sobre o indígena, forçando-o ao trabalho compulsório, remete também à imposição dos costumes europeus aos índios, causando, dessa forma, uma aculturação.

O mito do El Dorado é uma criação indígena como forma de resistência à exploração imposta pelos conquistadores europeus que, por sua vez, continuam com a mentalidade medieval de conquista e imposição de sua cultura e fé. Os sons da floresta na Amazônia Peruana enfatizam o quanto a natureza ainda reservaria aos europeus: dificuldades extremas, da alimentação a um rumo, aliadas à insanidade de seu líder, Aguirre. Essa relação extrema entre o homem e natureza é vital no cinema de Herzog, o homem é consumido perante o gigantismo dessa natureza e por suas peripécias ambiciosas.

Um dos últimos lapsos de contato com indígenas da região acontece quando encontram uma tribo desconhecida que, por sua vez, desconhece o valor da fé cristã imposta pelo Frei Carvajal. No malogro dessa empreitada, cada um dos ocupantes da balsa sucumbe à natureza local ou aos ataques sutis dos índios. Exceto Aguirre que, quase imponente e já mergulhado no ápice de sua insanidade, é consumido por sua cobiça e loucura de enfrentar a natureza primitiva amazônica.

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