21 de jan. de 2006

Da Sétima Arte

Eu acho que foi lá pelo fim dos anos 80. Meu pai chegou em casa, sorridente, dizendo que tinha uma surpresa. Fez algum suspense e então mostrou o vídeo-cassete. Novidade. Eu fiquei abobalhado. Corremos pra locadora e alugamos algumas fitas.

Era 89, acho eu, e a minha primeira fase cinematográfica acabava de começar. Freddy Krueger, Jason, Mike Myers. Todas aquelas possibilidades de sentir medo e de chocar a minha mãe ao alcance dos meus dedos.

Foram necessários alguns anos, um álbum de figurinhas, vários livros de Stephen King e mesmo algumas inserções autorais na literatura de terror, para que eu “evoluísse”.

Depois veio o surto nouvelle-vaguista e passei a me sentir o próprio telespectador incompreendido. Com meus óculos de aro preto, devorei os grandes clássicos – cabeça alternativos: Almodóvar, Luna, Godard, Kielowsky...Mas eu tinha então treze pra catorze anos, e não conseguia, como não consigo hoje, compreender a plenitude daquelas imagens.

Era 95 quando eu descobri, ou o cinema descobriu, que os filmes poderiam ser diferente e divertidos ao mesmo tempo. E eu vibrei com Tarantino, dei gargalhadas nervosas com Danny Boyle, David Fincher. E ainda, de lambuja, passei a ver o cinema-cabeça com outros olhos, mais vividos, defendendo até a última lágrima de criança a lentidão dos fabulosos filmes iranianos; a sensibilidade do cinema chinês. Tive ainda a audácia, vejam só, de começar a escrever resenhas de filmes num jornal local. Resenhas em que outros tiveram a inocência de acreditar.

Hoje eu estou aqui, acompanhando o verdadeiro ressurgimento do nosso cinema tupiniquim, a reinvenção do terror pelos japoneses e revendo clássicos absolutos em lançamentos oportunos de DVD’s.

A mente se abriu, o tempo minguou, mais cinema, pra mim, ainda é aquela sensação da primeira A Hora do Pesadelo da minha vida, o frio na barriga, a possibilidade de fazer parte da vida de alguém que você nunca viu antes, por algumas horas, e fugir com ela, e torcer com ele e amar com eles. Cinema, pra mim, vai ser sempre, sempre, o olhar de Mia Farrow assistindo à estréia de Fred Astaire no cinema. E daí que ela voltaria pra sua vidinha quando terminasse o filme? O que importava era que ele, naquele instante, estava carregando Ginger Rogers em seus braços. E todos estávamos no paraíso.


Márcio Benjamin - nuncamais1980@hotmail.com

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