Koyaanisqatsi é um documentário de 1983 dirigido por Godfrey Reggio, realizado apenas com imagens e uma trilha sonora, composta por Philip Glass. O próprio ato de assisti-lo já apresenta o que Benjamin mostrou em seu ensaio Experiência e Pobreza, dizendo que a “nossa aparente riqueza de idéias é, na verdade, o reverso de nossa pobreza”.
O filme é constituído de estranhamentos por meio do movimento, ou seja, por acelerações nos quadros acima do movimento natural ou lentidões de movimento abaixo do normal. Essa escolha formal, no entanto, proporciona uma estranheza crítica que permite à montagem um olhar de dúvida, novidade ou espanto ao se deparar com o óbvio.
Nesse óbvio, menos óbvias parecem as imagens realmente naturais. Se há algo que nos é alheio ou desconhecido é a própria natureza, constituída de movimentos cíclicos e repetidos. E este é talvez o primeiro sintoma de nossa pobreza: a inquestionável familiaridade que nos transmite as cenas urbanas, tal é o grau de poder da técnica em se constituir em natureza, banalidade, em falso elemento a-histórico. Ou se quisermos a ajuda de Benjamin, nossa proximidade com as cenas urbanas nos demonstra uma segunda natureza, cuja naturalidade e inevitabilidade o filme contribui para desconstruir na medida em que transcorre o filme.
Na bolsa de valores, os truques de montagem produzem sombras. Seria isso o caráter fantasmagórico do fetichismo da mercadoria? Ou o aspecto metafísico do dinheiro? Certamente é um espelho da nossa frágil e apressada miséria, sempre passível de ruir como pó. Na linguagem do filme, os edifícios em demolição tocam em um nexo de verdade e fragilidade da modernidade, o intenso movimento alheio aos homens(seus produtores) torna pó o obsoleto, mas vive com a ameaça(e talvez a certeza) de caminhar também para o nada, para o pó, ser engolido pelo movimento da “obsolescência programada”, como canta Gessinger em sua música.
O filme é constituído de estranhamentos por meio do movimento, ou seja, por acelerações nos quadros acima do movimento natural ou lentidões de movimento abaixo do normal. Essa escolha formal, no entanto, proporciona uma estranheza crítica que permite à montagem um olhar de dúvida, novidade ou espanto ao se deparar com o óbvio.
Nesse óbvio, menos óbvias parecem as imagens realmente naturais. Se há algo que nos é alheio ou desconhecido é a própria natureza, constituída de movimentos cíclicos e repetidos. E este é talvez o primeiro sintoma de nossa pobreza: a inquestionável familiaridade que nos transmite as cenas urbanas, tal é o grau de poder da técnica em se constituir em natureza, banalidade, em falso elemento a-histórico. Ou se quisermos a ajuda de Benjamin, nossa proximidade com as cenas urbanas nos demonstra uma segunda natureza, cuja naturalidade e inevitabilidade o filme contribui para desconstruir na medida em que transcorre o filme.
Na bolsa de valores, os truques de montagem produzem sombras. Seria isso o caráter fantasmagórico do fetichismo da mercadoria? Ou o aspecto metafísico do dinheiro? Certamente é um espelho da nossa frágil e apressada miséria, sempre passível de ruir como pó. Na linguagem do filme, os edifícios em demolição tocam em um nexo de verdade e fragilidade da modernidade, o intenso movimento alheio aos homens(seus produtores) torna pó o obsoleto, mas vive com a ameaça(e talvez a certeza) de caminhar também para o nada, para o pó, ser engolido pelo movimento da “obsolescência programada”, como canta Gessinger em sua música.
Ao nada, soma-se uma síntese da banalidade urbana, da sua ausência de experiência, do grau acentuado de alheiamento da sua, tão louvada pelos liberais, liberdade de ir e vir. De que serve ela quando nada nos transforma, nos ensina ou não nos fixa a lugar nenhum? É, em última instância, a escada rolante do metro o único ponto de unificação entre as individualidades soberanas que caminham pelas ruas.
Aqui, o filme mostra que os Hopi tem algo a nos ensinar, a nos dizer. Eles dizem Koyaanisqatsi, o mundo fora do equilíbrio. O problema é que nada pode ser ensinado para uma sociedade que não possui mais a sua própria experiência diária. Seriam eles capazes de escutar as pinturas das cavernas? Os índios Hopi? Possivelmente seriam os Hopi acusados de conspirar contra a democracia. De terror. Até tornarem-se homo saccer e serem também engolidos pelo movimento da rica vida urbana e da pobre vida humana. Consumir ou ser, esta é a nova questão.
2 comentários:
Thiago, vi seu comentario e adorei, eu havia refletido sobre isso tambem, quando vi o filme,tive uma visão parecida com a sua.
A diferença minha para vc é que eu não fui tão profunda. Bem gostaria se vc puder me ajudar é wentender o sentido das figuras de pinturas rupestres nas cavernas e como reggio correlaciona com a natureza? qual o sentido de ambas. Parabéns.Um abraço.
Muito sensata essa sua visão do filme e também concordo com ela.. mas penso também no homem como um parasita na terra, um ser que só aproveita ou melhor dizendo.. suga seus beneficios e vai criando sua colonia em cima da mãe Gaia.. é como se o homem não fizesse parte deste ecossistema e fosse um alienígena que vai destruindo mundos.. afinal.. pq somente nós temos raciocínio lógico e inteligência para criar todas estas "parafernalias" ? Para mim.. foi uma duvida que ficou no ar.. depois deste filme sinto-me frustrada em ser um ser humano e também por perceber que por mais que tente fazer o certo pela preservação do mundo estou entre todas as pessoas que aparecem no filme.. caminhando todos os dias sem rumo dependo de tudo oq foi criado..
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