28 de set. de 2007


Por que tanta cegueira?



As críticas sobre o filme Tropa de Elite de José Padilha são as mais arrasadoras possíveis. O filme foi acusado de conter "hipocrisia social" em crítica da FSP, além de ser acusado de ser de direita e de fazer apologia da tortura.

Por que tanta ignorância nos meios de comunicaç
ão de massa? A "acusação" de que o filme tem estrutura hollywoodiana e uma narrativa linear é correta e dá crédito à grande imprensa escrita. Mas é necessário perguntar: E daí? É proíbido se apropriar das técnicas cinematográficas - muito boas por sinal - hollywoodianas? Parece que vivemos uma nova patrulha ideológica, aos moldes dos anos 70. Mas por que vivemos esse patrulhamento? Talvez seja porque, pela primeira vez, abrimos espaço no cinema para discutir o policial de elite real - ou mais próximo do que seria o policial real - na medida em que esse policial não é meramente um objeto do sistema aparentemente automático, mas é um policial que possui conflitos psicológicos e dilemas existênciais - e não é uma mera peça de matar.

O cinema da retomada - como foi chamado o cinema que se salvou da herança do cinema novo num mundo onde não havia mais revolução política estatal possível - está produzindo um cinema à contra-pélo muito interessante. Tropa de Elite e Não por Acaso são representantes disso, de um cinema que se debruça sobre os problemas brasileiros sem reforçar a ladainha do oprimido, mas procurando entender o que se passa na cabeça do "funcionário do sistema que funciona mal". Em ambos os filmes estamos diante deles, que não são pessoas equilibradas e felizes, muito pelo contrário, são pessoas dominadas pela incapacidade do sistema. Que sistema é esse? O trânsito ou a segurança pública? Pouco importa, pois morrem pesssoas tanto em um quanto no outro.


O que incomoda no filme Tropa de Elite é a compaixão que o filme tem com o policiais do BOPE. Mas não somente isso, o que incomoda mais é a rigidez do filme
com a classe média, com o consumidor das drogas, a espinha dorsal do tráfico de drogas. O comércio das opções praticado pelo filme, chegando a conclusão que o possuidor de mais opções é o maior culpado, chega à nefasta e incomoda conclusão que o cosumidor - deus incontestável da atualidade - é o maior réu. O filme possui um posicionamente límpido e linear - que daria margem à poucas dúvidas, devido ao seu didatismo proposital. Mas, culpá-lo por aquilo que ele não é ou culpá-lo pelo didatismo em si mesmo e não pelos seus efeitos é algo mais que duvidoso. A dúvida que permanece é por que a elite intelectual, lotada na grande imprensa escrita, não gostou do filme de Padilha? A resposta a essa pergunta explicaria muito do que é o Brasil...

Um comentário:

Anônimo disse...

A elite intelectual do Brasil é míope, pra dizer o mínimo. Quando alguns pensadores tocam em pontos nevrálgicos, os moralistas de plantão (porque não são intelectuais no sentido forte do termo), já disparam suas metralhadoras. Renato Janine Ribeiro, após a onda de ataques do PCC, escreveu um artigo refletindo sobre a pena de morte e chegou a questionar o estatuto da humanidade (o que faz do ser humano humano), sofreu vários ataques por colocar essa questão. Do mesmo modo, José Arthur Gianotti, quando falou que a política era uma arena a-ética, também sofreu diversos ataques. Ou seja, há objetos e maneiras de tratá-los que "dão Ibope" e há aqueles que não, só pra usar um termo da Indústria Cultural, tão criticada, porém tão adorada, afinal quem não quer estar bem no Ibope. Estamos novamente diante dessa situação: o filme do Padilha mostra a visão dos policiais e como o diretor disse, sem esta visão não se entende a violência no Brasil. Ora, isso não é legítimo? Babenco mostrou, em Carandiru, a visão dos presos. Acho que para os intelectuais-moralistas só isso é legítimo. Além disso, o que não corrobora seus valores, é passível de crítica. Podemos notar isso em relação ao Lula. O povo é burro, desinformado, por isso vota no Lula. Inteligente é votar no Fernando Henrique, que privatizou a Vale do Rio Doce a preço de banana. Ora faça-me o favor! O povo votou no Lula porque suas políticas sociais fazem sentido para eles, melhoraram suas vidas. Do mesmo modo, o grande público adorou o filme Tropa de Elite porque as problemáticas abordadas fazem parte da sua vida! Em um curso que discutiu violência, entre outras coisas na USP, um dos professores, da Unicamp, ao terminá-lo, disse: “Que bom passamos três dias discutindo sobre violência e ninguém citou o filme Tropa de Elite. Viram como dá para resistir à indústria cultural!” Ó... o professor da Unicamp, financiado com dinheiro público, não discute o que é importante para o povo. Se o desejo é uma sociedade mais democrática, em que os direitos humanos sejam respeitados, uma das coisas é pensar justamente o que faz sentido para o povo e o que supostamente reforça os preconceitos do povo. Esse é só mais um exemplo da “autonomia absoluta” do campo acadêmico-científico brasileiro, para quem a importância dos objetos a serem estudados depende do bel prazer do professor-pesquisador ou do que rende mais, né? Não sejamos tolos... nessas horas os intelectuais arrumam mil justificativas para fazer o que fazem... só o povo que não tem justificativa pra votar no Lula!

 
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