"Sí, las brujas lo pueden todo!"
É o que diz a babá Nanna à pequena Verónica logo após a sangrenta cena que abre Veneno para as Fadas, filme mexicano de Carlos Enrique Taboada, de 1984.
Esse é o imaginário de Verónica, o universo das bruxas, que ela foi apreendendo a cada história contada. É quando, no colégio em que estuda, aparece Flávia, uma nova aluna, que Verónica tem a oportunidade de exercitar sua perversidade. Num jogo de dominação psicólogica, faz com que Flávia acredite que ela é uma bruxa. Invejosa, admira e busca tirar da amiguinha tudo o que ela tem, uma vez que Flávia é de uma família de posses.
A princípio, Flávia tem curiosidade, mas não acredita em Verónica, fruto de sua educação nada voltada a coisas religiosas/espirituais. No entanto, Verónica vai construindo as circunstâncias para que a menina rica dê-lhe ouvidos, tomando assim conta da situação. A ponto de forçar o convite para as férias na fazenda do pai de Flávia.
É ali que o jogo se torna mais perigoso, a partir do momento que Verónica propõe a Flávia que busquem ingredientes para um veneno para as fadas. No entanto, é com os ingredientes reunidos e no momento crucial, Flávia tem seu momento de audácia e a brincadeira tem um fim cruel.
É interessante notar a quase total ausência de uma postura realmente severa por parte dos adultos que, quando muito, praguejam contra as atitudes das meninas - o que foi o caso do pai, apenas uma vez. Realmente, o jogo de dominação que há ali não envolve os adultos, a não ser como meros peões. Verónica se vê em vantagem quando há a coincidência da morte da senhora Rickard, professora de piano da amiguinha. Mas ali há apenas, talvez, um recado anti-tabagismo implícito, em vez do resultado de um pacto com o diabo.
Quando da realização do filme, Taboada já era um roteirista e diretor de TV veterano. Em cinema, colecionava vários títulos em sua filmografia, entre eles o cultuado Até o Vento Tem Medo, de 1967. Curiosamente, seus filmes de terror gótico são os que o marcaram, muito mais que seus filmes de outros gêneros. Veneno para as Fadas é de uma simplicidade enorme, quase óbvio o tempo todo, no entanto, é cativante pelas nuances, como a inversão de papéis entre as meninas, no final; além das diferenças entre os ambientes familiares de ambas.
Não, não é um filme para mudar a vida de alguém, mas vale gastar uma hora e meia de uma vida assistindo-o.
Um comentário:
A insônia tem suas vantagens. Entre elas, pegar um texto quentinho.
O filme parece ser interessante. Tenho que encontrá-lo.
Postar um comentário