O filme Uma garota dividida em dois (La Fille coupée en deux) é sobre um evento que aconteceu em 1906. A história – tanto real, quanto o roteiro do filme – não é exatamente original: um jovem rico que gosta de uma jovem bela que gosta de um velho escritor, que não gosta de ninguém. Ainda que essa narrativa não ofereça, inicialmente, nada de atraente, o diretor Claude Chabrol conseguiu criar um filme interessante.
A construção da personagem de Gabrielle é de uma mulher surpreendentemente livre. É com liberdade que ela se entrega ao escritor Charles Saint-Denis e com igual despreendimento se casa com o rico Paul Gaudens.
É por não dever nada à mãe, não se preocupar com o diretor da emissora em que trabalha, por não se importar com que os outros vão dizer que Gabrielle se envolve intensamente com Charles. E talvez por tamanha liberdade e despreendimento que essa relação seja tão intensa e, para Gabrielle, tão real.
Mas, apesar dessa bonita versão que a personagem constrói para si no filme, a figura do escritor é bastante comum – e presa às suas atribuições como bem-sucedido escritor sedutor. Quando Saint-Denis acredita ser suficiente, ele termina, sem surpresa alguma para o espectador, seu relacionamento com a jovem. Nessa mesma atitude de desprendimento, Gabrielle se deixa levar por Paul. Ao espectador, parece evidente que esse caminho levará a um abismo, mas no filme, a impressão que se cria é que ela é levada; sem objetivos, sem comprometimento, sem crença. Simplesmente caminhando.
Apesar dos clichês que esse triângulo amoroso remete, o filme de Claude Chabrol dá a essa narrativa um olhar peculiar, de uma jovem não ingênua ou burra, mas livre: para amar, para errar, para ser levada.
Talvez a última cena seja um tanto surreliasta (para usar as palavras de uma amiga que estava na sessão): não era exatamente necessário serrar – literalmente – Gabrielle em duas. Mas entre uma história com altos e baixos tão intensos, cabe um desconto.
O título sugere que haverá uma escolha, mas é exatamente o que não acontece nesse enredo. A protagonista não é capaz de escolher nada, ela vai para um lado ou outro, sempre levada pelos homens que a cercam e sempre livre em relação à qualquer outro compromisso.
Talvez a personagem não termine a história exatamente livre, no sentido de que Gabrielle não se liberta completamente do amor que sente por Charles; ainda assim, é com muito desprendimento que se casa, que depõe a favor do marido, que se torna assistente de mágico. Claude Chabrol constrói com cuidado e êxito todos os personagens desse mundo caricato.
Gostaria de finalizar comentando a personagem da mulher do escritor; que me pareceu autenticamente doentia: ela administra a casa, a vida sexual do marido e a paz que ele precisa para ser um escritor de sucesso. Sua figura me parece ser a mais doentia no sentido de anulação, devoção, não existência. Entre as opções apresentadas, ainda me parece mais atrante a liberdade suicida de Gabrielle.
A construção da personagem de Gabrielle é de uma mulher surpreendentemente livre. É com liberdade que ela se entrega ao escritor Charles Saint-Denis e com igual despreendimento se casa com o rico Paul Gaudens.
É por não dever nada à mãe, não se preocupar com o diretor da emissora em que trabalha, por não se importar com que os outros vão dizer que Gabrielle se envolve intensamente com Charles. E talvez por tamanha liberdade e despreendimento que essa relação seja tão intensa e, para Gabrielle, tão real.
Mas, apesar dessa bonita versão que a personagem constrói para si no filme, a figura do escritor é bastante comum – e presa às suas atribuições como bem-sucedido escritor sedutor. Quando Saint-Denis acredita ser suficiente, ele termina, sem surpresa alguma para o espectador, seu relacionamento com a jovem. Nessa mesma atitude de desprendimento, Gabrielle se deixa levar por Paul. Ao espectador, parece evidente que esse caminho levará a um abismo, mas no filme, a impressão que se cria é que ela é levada; sem objetivos, sem comprometimento, sem crença. Simplesmente caminhando.
Apesar dos clichês que esse triângulo amoroso remete, o filme de Claude Chabrol dá a essa narrativa um olhar peculiar, de uma jovem não ingênua ou burra, mas livre: para amar, para errar, para ser levada.
Talvez a última cena seja um tanto surreliasta (para usar as palavras de uma amiga que estava na sessão): não era exatamente necessário serrar – literalmente – Gabrielle em duas. Mas entre uma história com altos e baixos tão intensos, cabe um desconto.
O título sugere que haverá uma escolha, mas é exatamente o que não acontece nesse enredo. A protagonista não é capaz de escolher nada, ela vai para um lado ou outro, sempre levada pelos homens que a cercam e sempre livre em relação à qualquer outro compromisso.
Talvez a personagem não termine a história exatamente livre, no sentido de que Gabrielle não se liberta completamente do amor que sente por Charles; ainda assim, é com muito desprendimento que se casa, que depõe a favor do marido, que se torna assistente de mágico. Claude Chabrol constrói com cuidado e êxito todos os personagens desse mundo caricato.
Gostaria de finalizar comentando a personagem da mulher do escritor; que me pareceu autenticamente doentia: ela administra a casa, a vida sexual do marido e a paz que ele precisa para ser um escritor de sucesso. Sua figura me parece ser a mais doentia no sentido de anulação, devoção, não existência. Entre as opções apresentadas, ainda me parece mais atrante a liberdade suicida de Gabrielle.
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