28 de mar. de 2006

Desmascarando Cineastas - Parte I de III: Pedro Almodóvar

Depois de quase duas décadas sem trabalhar com Pedro Almodóvar, Carmem Maura afirma que seu amigo é menos alegre. Não necessariamente é preciso ser amigo dele ou próximo para perceber. Com o passar dos filmes, vemos uma progressão na forma técnica de Almodóvar, quando, ao mesmo tempo, percebemos a perda do seu estilo despojado – sem compromissos, interessado apenas em contar, retratar. Ele foi "progredindo" com o passar dos anos na Espanha, os tempos dourados do fim da guerra civil, a "Movida", como eles chamam, já está sendo esquecida. O liberalismo já não é mais o mesmo, o clima de país que está nascendo se acabou. Hoje, assim como a Espanha, Almodóvar é mais europeu, é mais clássico, mais sério.

Em tempos onde ser original ou ter um estilo próprio é cada vez mais raro, o cineasta espanhol, meio que proposital, meio que improposital, foi perdendo sua narrativa tão característica. Com o progredir dos anos, fazendo filmes quase que anualmente, ele foi aprendendo a dirigir, foi se adaptando aos meios e sentindo necessidade de ser mais sério, não é mais um jovem, é um adulto. Deixou as comédias depravadas do lado, o mais bizarro da cultura espanhol, o surrealismo criado pela tríade cultural (Dali, Buñuel e Lorca), optando por maior dramacidade, mais sentimentalismo. Isso é notável a partir de
Carne Trêmula, filme de transição, que mantém seus traços artísticos, no entanto já carrega uma seriedade maior com seu ofício. Seguindo com Tudo Sobre Minha Mãe, Fale com Ela e o extremo Má Educação. Com eles vieram os prêmios, oscars: a partir de então, começa a ser levado a sério pela classe intelectual cinematográfica.

Almodóvar é uma prova de que a técnica no cinema não é o mais importante. A importância reside na forma, na narrativa. Cineastas como Bergman e o tão idolatrado Glauber Rocha em seus primeiros filmes também refletem bem esse quadro. É certo que, com o curto tempo, eles aprenderam, mantendo um estilo próprio, indo até mais além com os experimentalismos e a inventividade – fator que não passa com Almodóvar. Este ficou apenas no tecnicismo tradicional.

Depois de um filme anti-almodovoriano (mas que o próprio cegamente sente orgulho), como Má Educação
, onde Almodóvar entra em temas intocados por ele: como a retratação de décadas passadas ou temas, onde nunca obteve sucesso, por exemplo, falar dos homens. O cineasta, indiretamente, sente a necessidade de retomar seu conhecido estilo, retrocedendo duas décadas, ao tentar a ser o Almodóvar que todos conheceram.

Volver seu mais recente filme, interpretado por duas de suas musas, Carmem Maura, a antiga e Penélope Cruz, a atual, volta aos temas das mulheres e suas situações cotidianas um "pouco" que exagerada. Retorna ao seu universo, resgatando temas passados, intencionado a fazer-nos rir, porém, como passa com todos, Almodóvar não percebe que não é mais o mesmo. Afinal: o tempo não para e vamos ficando mais velhos, maduros, já não somos tão irresponsáveis. Neste caso, já não se trata de mais um qualquer, é um artista conhecido mundialmente, a fama nao te permite ser tão alegre.

Super-valorizado em muitos países, super-desvalorizado em seu país, o certo é que Almodóvar era um dos poucos originais que restava no cinema. Fez uma obra-prima chamada: Matador e ótimos filmes como Ata-me e Tudo Sobre Minha Mãe, mas todo esse universo que criou, ele deixou perder e, talvez, para não reencontrar nunca mais e ser apenas mais um bom cineasta que como muitos outros fazendo apenas bons filmes, ganhando muitos prêmios, mas contribuindo a concretizar ainda mais a mortalidade da sétima arte.

3 comentários:

Márcio disse...

Belo texto, concordo com quase tudo. Mas dizer que o cara contribui com a mortalidade do cinema é um pouco demais, colega. Filmes como Fale com ela e, talvez o melhor dele, na minha opinião, que é Tudo sobre minha mãe sáo verdadeira obras de arte de um Almodóvar mais maduro e mais consciente do poder de um diretor. Longa vida ao cara!

Anônimo disse...

O principal ponto é exitamente esse, Almodóvar optou por fazer filmes mais sérios, mais maduros E mais convencional, deixando de lado assim o seu toque que o consagrou e que de certa forma, tinha sua originalidade.

Anônimo disse...

Concordo, o inétido tornou-se clássico.

 
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