6 de out. de 2006

Killing Sister George, Robert Aldrich (1968)

O drama gay hoje é algo comum, mas em 68 chocava. Filme baseado numa peça de teatro de Frank Marcus, basicamente feito para o teatro por suas poucas locações, muito mais atraente pra quem presta atenção à dramatização inglesa. Aldrich, talvez com essa intensidade da presença da atuação dramática faça com que qualquer história tenha algo de inverídico. Claro que completamente verossímil, ou seja, com uma base forte realista – mas de tão exagerado fica parecendo coisa boba. Certamente ele, o diretor, não é bobo. Muito menos um incompetente, pelo contrário.

George é lésbica, atriz velha da BBC em um seriado, e sustenta uma “garota”. A relação das duas não viria muito ao caso, se não fosse a presença absurda desse amorzinho à la novelas e folhetins. Nada de romantismo, mas a crueza do mundo do trabalho, nesse caso o trabalho na mídia. Uma clara contestação às fantasias de séries de TV que não valem nada. George é uma freira, em sua personagem, mas uma beberrona que odeia cenas pomposas, e está na série somente pra ganhar sua vida mesmo. Assim que a personagem da TV morre, morre junto a ela a personagem do palco do filme.

O que acontece com a trama lésbica do filme (tenho que ressaltar que, definitivamente, não parece ser feminina, e sim masculina com mulheres – gay mesmo) é uma subversão do drama burguês conhecido por todos. Uma subversão que chega ao gênero, em seu núcleo. Ao colocar brigas e intrigas envolvendo dinheiro, fama e sexo – ainda que em um nível bem sutil, Aldrich praticamente leva algo de Russ Meyer, algo do underground pras telas do cinema autoral. É algo relevante em se tratando do cinema que viria da década de 70, e o contexto do genocídio do cinema. Não era só crise, mas era um assassinato – quem o matava eram os mais renomados pra isso, mostrando que a TV era o maior agente dessa tensão final. A TV e a falsidade das relações humanas, o espetáculo criador do nada. E sem teatro, sem o que Aldrich gosta de fazer. Este autor dava leves punhaladas ainda que com essa subversão do gênero do filme.

Não é que o filme seja feminista aos nossos olhos de hoje. Mas foi pra época: ele tira o homem do centro. O cinema, basicamente, usava a mulher para premiar, para dar de presente, para seduzir ou desenrolar uma trama acionada pelos homens. Mas no Assassinato da irmã George todas as ações são femininas. Mais especificamente lésbicas, pois não havia como ele aprofundar tanto na feminilidade, um diretor de westerns e noirs bem clássicos, nos quais os heróis homens chegam ao absurdo do exagero, como no insuperável Kiss me deadly.

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