
Diferente porque ele deixa o suspense aterrorizante pra uma comédia onírica, que por remeter-se à insegurança de acontecimentos do sonho, também se caracteriza como suspense. Mas nada assusta. Estamos num mundo à beira da praia, umas férias, numa poesia que acalma e excita. A personagem da poetiza não larga seu diário durante todo o filme, e ela, na sua maior parte, fica nua, fazendo-nos ficar extremamente ligados ao filme. Esse erotismo é artifício de narração, como Manara faz: veja a semelhança da atriz Sydne Rome com as mulheres desenhadas por ele. Uma modelo, apenas. Ela é desejada sexualmente até mesmo por cães, e se torna a cobiça da mais nova arte que se desvenda aos nossos olhos.
Uma arte meio vazia, kitsch, carnavalesca, circense e, claro, sacana. A mulher aos olhos dessa arte é um corpo que nos atrai, sua beleza é mais que a forma procurada, desejada – é uma forma divinizada, misteriosa. Não há paródia dentro da publicidade do corpo nu eroticamente explícito - não há mesmo. Nós aceitamos o espetáculo pobre em artifícios racionais e corremos como cachorros tarados atrás de um corpo belíssimo de uma poetiza espontânea, ingênua, juvenil e feliz.
Essa é a felicidade de um sonho bom, de uma passagem à irrealidade do sexo latente. Foi isso que os anos 70 conseguiram levar ao status do Pop, uma arte nova, que novamente usava a sedução para atrair público e nos evidenciar o hedonismo.
Sim, o filme é uma comédia... Mas uma comédia inusitada. Nos lembra algo que no Brasil se costumou chamar de pornochanchada. Óbvio que com mais apuro estético – isso acontece quando a Nobre Arte, personagem do filme que é dono de todo o cenário que vemos, o senhor Noblart, morre e algo novo surge, junto à porcaria que leva a poetiza à Istambul, o lugar do exotismo para o velho mundo. Durante todo o sonho fetichista, um soldado francês conversa com um brigadeiro francês, e a Itália é refúgio ao modo simples de se ver o mundo difundido pelos americanos. A arte nova está lá, no Velho Mundo, onde estava uma velha morta também. Nietzsche que o diga.
Mas o senhor Noblart não morre antes de ver algo que antigamente o dava instigação à vida – a vagina da nova poetiza, da nova arte, que não é mais apenas uma sereia sedutora que desvirtua os heróis, mas a própria heroína que sente prazer em todos os lugares por onde passa, na irresponsabilidade bonita de uma criança adulta cheia de libido. Ela conhece o universo do filme, sabe que ele é filme, libera o dispositivo aos espectadores que babam para a movimentação de seus seios (assim como os personagens masculinos do filme, jovens ou velhos).
Dos presentes à ceia familiar, apenas Alex (Marcelo Mastroiani) sabe que ela, a poetiza é manipulável. Mas à base da violência, somente. Violência que ele, como um bom Autor de realidades fetichizadas, adora dar e receber. Não é o fim dos tempos retratado? Na verdade todos preferem achar que o fim sempre esteve presente – apenas agora ele se mostra. Um fim sem teleologia, sem sentido – sem fim.
2 comentários:
really sexy photo of naked women...
hey i'm not joking realy good one..
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Belíssimo texto!
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