Seja como for, o filme O Profeta das Águas de Leopoldo Nunes, vencedor do 8o FICA, parece conter um discurso tão evidente e claro que não mereceria dizer nada sobre ele, a não ser pela enorme importância que possui. O documentário narra a vida do lider religioso Gaudino de Rubinéia, uma cidade localizada na divisa de Minas, São Paulo e Mato Grosso do Sul, onde foi construída durante a ditadura militar uma usina hidréletrica. Preso, torturado e levado ao DOPS aos cuidados de Fleury, a história de Gaudino desvenda não somente a sua história de vida, mas apresenta com delicada acuidade o poder da repressão política e social de construir suas vítimas e enquadrar diferentes adversários políticos no rol dos crimonosos, dos loucos e dos banidos.
Pregador contrário à construção da barragem e a favor da reforma agrária, Galdino não cometeu nenhum crime civil e nem militar. Nem mesmo a Lei de Segurança Nacional conseguiu descrever a sua culpa. Com muitos seguidores e ganhando força em Rubinéia, foi denunciado pelo delegado da cidade ao DOPS. Órgão central da ditadura militar brasileira, a política política tratou de lhe prender e começar a construir sua “perigosa” ficha. Nada havia além de profecias, mitos e a espera por um exército de salvação. Receberam bem os homens da ditadura, pensando se tratar da sua realização mítica, mas o exército viera mesmo só para prender Galdino. Sem poder criminalizá-lo, sacaram o último recurso para a construção de um culpado, atestando a sua insanidade mental. O Hospital Psiquiatríco de Franco da Rocha, o reduto dos perigosos inclassificáveis, o violentou por alguns anos.
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