Uma a linguagem social dada, mediada pela violência nas suas mais diferentes modalidades. As mais nítidas, no caso dos tiroteios entre facções rivais em meio à polícia integrada na guerra desenfreada. Nas suas faces mais sórdidas, a violência expressa no apartheid Zona Sul/Norte impresso pelo nojo da elite blindada, trancafiada nos seus carros importados.
A outra linguagem é a da arte, expressa pela dança. Não dominada pelo maniqueísmo do assitencialismo ONGeiro que libertaria o pobre da favela e perdoaria os ricos por estarem nos seus carros blindados. A dança compõe no filme um palco para a discussão dos desafios impostos quando a violência assume a posição de linguagem dominante. Nesse caso, não basta inserir a arte como redentora e é, sobretudo, nesse aspecto que o filme prima pelo seu cuidado em não reduzir os dilemas, não evitar os diálogos cruciais e as perguntas que poderiam ser "suavizadas" se não se tratasse de uma cineasta como Lucia Murat.
A arte da dança não é redentora da tragédia, que o filme notadamente é. A dança sugere um caminho, uma exceção verdadeira, que não é nem um lado nem o outro, pois ela não está dada, assim como está a tragédia em curso. A dança é um ensaio e, como todo ensaio, tem toda a carga da vontade, embora não possa contar com a certeza da vitória. Sobre isso é emblemática a fala da professora de dança, oriunda da Zona Sul, quando diz só querer continuar seu projeto na Maré porque precisa dele, carece do tesão dos alunos pela dança, coisa que ela não encontra no seu meio.
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