23 de jun. de 2008

Em Cartaz: "RAMBO IV"

Rambo IV, dirigido por Sylvester Stallone, estreou em março desse ano e ainda segue em cartaz em alguns cinemas do nosso país. Além do esperado apelo comercial de mais um filme de ação e da expectativa criada pela notoriedade do personagem, Rambo chegou em um momento oportuno. Há mais de um mês um ciclone devastou a costa de Birmânia, que voltou a ser notícia mundial, dando assim evidência a um país esquecido pelo mundo, que vive em uma ditadura genocida há mais de 40 anos.

Consciente disso, Stallone revive um dos seus personagens mais famosos, para criticar e alertar a massa de expectadores, da barbárie militar desse país asiático. Esse não é um filme para provocar os políticos, mas um alerta para nós, alheios aos temas políticos tão distantes dos nossos interesses. Stallone usa desse meio de massas, chamado cinema, para mostrar àqueles que desconheciam um país “esquecido” pelas autoridades de todo o mundo que não só da democracia, tão recheada de entretenimento, vive o mundo.

Rambo IV é um filme extrema e necessariamente violento (das várias críticas que recebeu, este foi o ponto mais focado). Stallone, um senhor com mais de 60 anos, maduro e experimentado, demostra que a maturidade pode ser muito positiva, vide o ótimo Rocky Balboa. Ele vai diretamente ao ponto crítico, como um Samuel Fuller ou Albert Camus, não enrola e não busca o sentimentalismo, usa a violência de forma realista, enveredando-se pelas raízes do cinema-verité, consciente de que um filme é a narrativa e, neste cinema, nem sempre sugerir é mais válido que mostrar.

De forma crua, apresenta Birmânia em imagens arquivadas, com comentários jornalísticos e, na sequência, mostra pessoas como nós em uma situação habitual: são expectadores ou atuam em uma espécie de “jogo da vida” em que soldados brincam de ser Deus com os campesinos, tudo em busca da reverência e do tremor da população. Em esses cinco minutos, Stallone já nos diz o que devemos saber.

John Rambo, personagem das aventuras anteriores, ex-soldado, ícone da nação americana, se atualiza e passa do patamar de ser o homem que, sozinho, podia ganhar uma guerra para o nível de ser um homem decadente, um barqueiro que vive em harmonia com os vietnamitas e não crê mais em nada nem ninguém, abandonando tudo como se nada mais importasse, nem mesmo sua família (o pai).

Em contrapartida, a presença e insistência de uma mulher (a força da atração?) fortalecem sua imagem viril. Membro de uma ONG de ajuda humanitária e sequestrada com seus companheiros em Birmânia, faz ressurgir o herói, enfrentando com a ajuda de uma dezena de soldados americanos (o que é importante se frisar) os militares birmaneses em busca de resgatar os civis compatriotas e servindo de pano de fundo para reforçar a barbaridade já presente no princípio do filme.

Por mais que ainda presente a comum imagem do americano salvador, a evolução do herói é destacável, Rambo IV é humano e foi despatriotizado, o que lhe move não é mais a América, é uma causa muito própria: o resgate de uma mulher (amor?).

O demais é o mais do mesmo: muitos tiros, mortes, cenas espetaculares, clichês e um final que não termina de me convencer. Um prato cheio para os críticos, quase um problema de identidade, já que um filme dessas características não pode fugir dessas seqüências que lhes são tão-criticadamente peculiares.

Ainda assim, Rambo IV caminha em uma vertente diferente dos dois filmes anteriores da saga. Stallone sabe que, sozinho, não se pode vencer uma guerra, seu personagem não luta à favor de uma nação, nem a americana, nem a birmana, consciente de que esse não é o problema de um e sim de todos. Rambo não enfrenta diretamente os líderes políticos do país, combate apenas uma pequena parte de um exagerado batalhão, como se dissesse que é necessário um passo, por pequeno que seja.

Ao final, vejo na quarta parte de Rambo não uma mensagem politicamente correta, nem muito menos pretenciosa. Vejo apenas a intenção de alertar-nos que algo vai mal... que algo vai muito mal.

2 comentários:

Anônimo disse...

Quando eu estava hospedado na casa de um amigo em Porto Velho, ele comprou o DVD pirata do filme.

Relutei em assisti-lo. Por medo do Rambo mesmo. Melhor repetir, medo do Rambo, não do filme. Pois, acreditava eu, seria possível, no meio do filme, Rambo virar para mim, apontar sua arma e atirar falando morra seu pirata mercenário.

Em outras palavras, medo de tudo o que representa o personagem Rambo.

Mas acabei assistindo para me sentir em casa. E dei muitas risadas no filme. Não só eu, todos que estavam ao meu lado - um piá de 13 anos, outro de 18 anos, um homem de 40 anos e sua esposa.

Rimos do que? Da caricatura. Aquele Rambo era caricatura grotesca dos outros.

E, assim como o humor, o humanismo em "Rambo" é mais circunstancial do que intencional. Por isso mesmo, outra caricatura.

Abraço!

Alessandro de Paula disse...

Talvez o filme seja válido por haver um caráter de denúncia, não sei, não vi. Também tenho medo do Rambo... eh eh eh!

Mas, um dia, quem sabe eu encaro...

 
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