9 de jun. de 2008

Em Cartaz: "FÔLEGO"

O silêncio é uma das marcas mais cruciais nos filmes de um dos principais autores do cinema contemporâneo, o cineasta sul-coreano Kim Ki-Duk, presença freqüente nos principais festivais do mundo. O diretor compõe um time ao lado Chan Wook Park (Oldboy, 2004), Bong Joon-Ho (O Hospedeiro, 2006), entre outros jovens cineastas sul-coreanos que elevaram o cinema daquele país a uma categoria de destaque na crítica internacional, além das premiações em festivais e a crescente onda de produções dos mais variados gêneros provindos da Coréia do Sul.

Seu último longa metragem Fôlego (Soom, Coréia do Sul, 2007) concorreu a Palma de Ouro no mesmo ano em Cannes. A trama é sobre um jogo de traição e amor, vivenciados por uma mulher traída por seu marido e um condenado à morte, na qual a mulher, uma dona de casa que produz esculturas como passatempo, se interessa por sua história ao acompanhar mais um de suas inúmeras tentativas de suicídio na prisão. A partir desses fatos forma-se um relacionamento simples, até certo ponto ingênuo, na medida em que a mulher interessou-se pelo presidiário, indo conhecê-lo na prisão e visitando-o frequentemente, para o até então descaso de seu marido com o matrimônio e a incomoda curiosidade de saber o que sua esposa fazia em suas saídas diárias, algo incomum na sua rotina, após a mesma descobrir que seu cônjuge possuía uma amante.

Tendo esse ambiente como premissa para um relacionamento peculiar, Duk constrói sua trama com os principais ingredientes característicos em sua filmografia, o silêncio de Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera (2003), Casa Vazia (2005) e a impossibilidade de O Arco (2006). O clímax do relacionamento é tratado pelas expressões sentimentais que vão se criando após cada encontro na prisão, o que gera certa e curiosa comoção pelos carcerários, ainda mais com um elemento retratado no filme onde cada visita possui uma temática nas quatro estações do ano, sendo que a mulher inverte seus trajes e o ambiente proporcionado com a estação vigente.

A formação do diretor como artista plástico reflete na expressão, ambientação e construção dos cenários de seus filmes, planos de fotografia sublimes, a forma como o autor trata as relações humanas e suas agruras, além do elemento “fantástico” presente em longas como A Ilha (2000) e os já citados O Arco e Casa Vazia. Mesmo com todos os elementos corriqueiros na condução de filmes, a impossibilidade cede lugar a realização do desejo que os consome, a partir da angústia do destino dos personagens, tendo como base a subversão da relação extraconjugal apresentada na vida da mulher, a condenação por um crime bárbaro que ocasionou a prisão a falta de perspectiva pela vida por parte do detento.

O grande mérito do diretor em Fôlego é estabelecer a reflexão que mexe com seu expectador. Por meio de ambientes e situações que compõem suas tramas sempre permeadas por sua construção narrativa, a bela fotografia e o sublime e inquietante silêncio. Marca principal deste autor que ao lado de outros cineastas orientais como o seu conterrâneo Chan Wook-Park, o malaio Tsai Ming-Liang, os chineses Jia Zang Ke e Zhang Yimou, o já consagrados Takeshi Kitano e Wong Kar Way, entre outros promissores cineastas que fazem do cinema asiático contemporâneo um dos melhores pólos de produção cinematográfica atual, nos mais variados gêneros.

4 comentários:

Alessandro disse...

Hudson, talvez eu não tenha visto o filme com o mesmo interesse que você viu. Chegou a decepcionar um pouco, mas não é ruim. Parece-me certo, agora, que terei de rever o filme.

Abraço e boa sorte pra ti e a todos envolvidos com este espaço renovado!

PS: Sábado é a minha vez... confesso... estou um pouco apreensivo... eh eh eh!

Anônimo disse...

Não vou muito com a cara do Kim Ki-Duk, mas fiquei com vontade de ver "Fôlego" depois de ler seu texto.

Só que ao ler o comentário do Alessandro, a vontade tá com um pé atrás.

Espero que dê tempo de eu ver antes do outro pé recuar.

Hudson disse...

Valeu o apoio amigos. Não é o melhor filme dele, é claro, ao meu ver é inferior aos sublimes Primavera, verão... e Casa Vazia, porém tem seus méritos.

Vejo a condução de suas tramas através do ausência de diálogos de seus personagens, ressaltando a expressões dos atores na representação das relações humanas.

Alessandro disse...

Ei, Di, veja o filme, sim. Eu mesmo estou disposto a rever o filme. Talvez o problema tenha sido comigo, no dia em que vi o filme.

 
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