Charlie Chaplin sabia ser irritante. Quem revê hoje em dia Luzes da Ribalta sabe o que pode acontecer quando o palhaço resolve fazer chorar. Tudo chora: a música, a platéia, o personagem. Talvez exista em O Circo uma centelha de Calvero, o palhaço triste, mas ele não domina os acontecimentos.
Chaplin não se esquivava do melodramático, o que pode ser uma vantagem. Em seu cinema há lugar tanto para o risco como para o choro, para bondades infnitas e perversidades insuperáveis. A riqueza de seu cinema não se resume a isso, mas passa por aí.
A gama de sentimentos abarcada por Carlitos, seu personagem-chave, é tão ampla quanto sua capacidade de variar de tom. Em O Circo existe o que pode have de mais trágico: um palhaço que não faz rir.
Não é Chaplin. Este faz rir tanto involutariamente como de propósito. Como evitar o riso diante de uma mímica que parece desafiar todas as forças instituídas, os poderes do mundo?
Mas nem por isso o vagabundo deixará de ser o mais infeliz dos seres, como demonstra a patética cena final. O Circo permanece um desses filmes que quase setenta anos depois de ser feito pode ser visto com paixãp pelas crianças e com entusiasmo pelos adultos.
Chaplin faz uma homoenagem ao circo, ao mesmo tempo em que exercita a arte do inesperado inscrito no esperado: o gesto que arrebata ém econômico, seco - defiitivo, pode-se dizer. Chaplin era um gênio. O Circo é uma das expressões dessa genialidade.
Texto de Inácio Araújo extraído do livro Folha Conta 100 Anos de Cinema; p. 17-18: 14/10/1993.
2 comentários:
Oi,Perfeito esse blog, voltarei sempre para ter indicações de filmes.
Ola :)
Gostei muito deste Blog.
parabens
Postar um comentário