30 de set. de 2008

"Newman visto por Vidal y Williams" por Bob Pop

Gore Vidal na segunda parte de suas memórias, de seu próprio livro dos mortos, Navegação à vista, se lembra várias vezes de Paul Newman. Hoje, volto a ler essas recordações depois de um par de meses, precisamente quando acabo de saber que Newman morreu:

“(…) Paul demonstrou ser nossa estrela entre as estrelas. As mulheres as vezes se comportavam de forma estranha quando o viam. Uma vez estávamos caminhando pela avenida Madison e uma jovem corpulenta se acercava em direção oposta; ele meteu rapidamente o queixo no pescoço do casaco para esconder seus olhos de azul ártico. Também apertou o passo. “Segue andando”, sussurrou-me enquanto passávamos por seu lado. De repente se ouviu um estrépito a nossas costas. “Não te voltes”, disse ele, voltando-se; depois jogou a correr. “Que passou?, perguntei. “Desmaiou-se”, disse, e subiu a um táxi.”

Mais memórias. Tennesse Williams nas suas:
“Paul Newman também é extraordinário. Custa-lhe muito entrar num papel, mas quando por fim o consegue, é maravilhoso.”

E eu, de que me lembro agora que morreu? De sua angústia em Gata em teto de Zinco Quente; de sua raiva e de seu medo. De perguntar-me por que todas as mulheres pensavam que Redford e ele eram os mais bonitos, e não o ver, não entender. De seu magnífico papel de Sully Sullivan em O Indomável - assim é minha vida; meu Newman preferido por como transformava sua mirada em tela a Melanie Griffith na mulher mais desejável do mundo. De sua cara desenhada nos frascos de molho. E pouco mais. Também não creio que a ele lhe interessasse um lugar de honra nos iconostasios. Paul Newman não parecia uma estrela que se construísse na fascinação dos demais. Tinha coisas melhores que fazer. Morrer-se em casa, bem rodeado, por exemplo.

“Morreu-se Paul Newman“, disseram-me. E o primeiro que se me passou pela cabeça foi: “Liz, safada, enterraste a todos”.


Texto de Bob Pop extraído de: http://blogs.publico.es/bobpop/?p=261

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