Existe uma cena de diálogo, logo no começo do filme, que é a chave para a compreensão do que Cassavetes queria com esse trabalho. Na cena, Minnie (Gena Rowlands) está na casa de uma amiga chamada Florence e, durante uma conversa sobre relacionamentos, sexo e amor, a personagem de Gena Rowlands começa a discutir sobre o Cinema (Ambas haviam acabado de assistir Casablanca) e vida, dizendo:
Não é por acaso que tal monólogo está no filme, da mesma forma que não é por acaso que vemos cenas de O Falcão Maltês, Casablanca e referências a Pernalonga, Frank Capra e Nicholas Ray. Cassavetes quer falar de Cinema, sobre como ele entra no nosso imaginário, na nossa percepção do que é certo e errado, e nos nossos desejos de ter uma vida legal, “cool”. E faz isso a partir de um gênero comum a qualquer cidadão que vá para o multiplex pelo menos duas vezes a cada quatro meses: O Screwball Comedy.
Tal estilo de filme pode ser rasteiramente resumido como comédia romântica, ou comédia de relacionamentos, e o que acontece em produções do tipo é: “Homem conhece Mulher. Eles têm personalidades e estilos opostos, mas, depois de muitas brigas e complicações, descobrirão que se amam e vão tentar viver juntos.” Como se pode perceber, não é nada diferente de metade dos projetos cujos atores são a Meg Ryan ou o Hugh Grant. O detalhe é que aqui temos Gena Rowlands e Seymour Cassel.
E são as personagens desses dois, Minnie – moça bonita, loira, protestante, segura de si, inteligente, sofisticada, recatada – e Moskowitz – homem estranho, deselegante, judeu, grosso, passional e detentor de um dos bigodes mais feios da história da sétima arte –, que servirão de base para a trama romântica e, principalmente, para o que o diretor norte-americano quer comentar nas entrelinhas, como mostra o diálogo transcrito parágrafos acima.
O que importa, na verdade, não é discutir se os dois vão ficar juntos, se realmente se amam, mas sim debater sobre os mecanismos enganadores do Cinema e sobre como eles atuam no nosso julgamento do dia-a-dia, inclusive ao assistir um filme romântico. Porque é tão difícil e irreal aceitar alguém como Moskowitz enquanto pessoa ideal para Minnie, se muitas vezes acabamos aceitando, e esperando, que um príncipe encantado (ou princesa encantada, vá lá) – mais irreal que o personagem de Cassel – exista de verdade e apareça do nada, logo depois de uma esquina qualquer do bairro? Mudando de tema, porque tentar agir “cool”, imitando um estilo de um determinado ator/personagem, ao invés de tentar ser sincero em relação aos próprios princípios?
Cassavetes agora repassa para o espectador questões que antes eram importantes apenas para os personagens principais de seus filmes: As máscaras, o escudo protetor, como agir em sociedade. E o faz em filme mais calmo, mais light, que pouco tem a ver com seus trabalhos anteriores. É ai que mora o principal problema do trabalho.
É uma comédia, cheia de entrelinhas, de referencias, mas, ainda assim, é uma comédia, e a mão de Cassavetes é pesada demais para isso. Apesar de tentar uma narrativa mais leve, com várias piadas que variam do dialogo rápido até as gags físicas, o filme acaba ficando em um meio termo perigoso, quase perto do drama, fazendo com que certas situações não funcionem e outras acabem mal desenvolvidas. A tal discussão sobre Cinema, noção de realidade e comportamento, nunca passa daquilo dito pela personagem de Rowlands, e todo o desenrolar do filme soa como redundância do monologo, ao invés de complementá-lo.
Alguns autores como Ray Carney botam Assim Falou o Amor (Minnie and Moskowitz; 1971) dentro de uma suposta trilogia do casamento, junto com Uma Mulher sob Influência e Faces, que mostra todas as fases do relacionamento conjugal, do conhecimento inicial até o seu fim, mas acredito que isso é limitar demais os trabalhos do diretor e as temáticas para além do roteiro que todos abordam. “Minnie...” parece muito mais uma preparação para o que vai ocorrer nos próximos projetos, onde a noção de “casamento” se torna bem maior do que “estar junto oficialmente com alguém”.
"Eu acho que filmes são uma conspiração. Eles te fazem acreditar, desde criancinha, em tudo; em amor, em idéias, em pessoas boas, em força, em tudo, sabe? Então você sai procurando... e você arranja um trabalho, como nós, que trabalhamos num museu, lidamos com coisas bonitas, mas elas não são bonitas. Perdemos um tempão ajeitando coisas, tomando conta de coisas legais, decoração, jazz, aprendendo como cozinhar e como ser feminina... Mas não existe Charles Boyer na minha vida. Nunca encontrei um Charles Boyer. Nunca encontrei um Humphrey Bogart. Nunca encontrei um Clark Gable, ou um William Powell."
Não é por acaso que tal monólogo está no filme, da mesma forma que não é por acaso que vemos cenas de O Falcão Maltês, Casablanca e referências a Pernalonga, Frank Capra e Nicholas Ray. Cassavetes quer falar de Cinema, sobre como ele entra no nosso imaginário, na nossa percepção do que é certo e errado, e nos nossos desejos de ter uma vida legal, “cool”. E faz isso a partir de um gênero comum a qualquer cidadão que vá para o multiplex pelo menos duas vezes a cada quatro meses: O Screwball Comedy.
Tal estilo de filme pode ser rasteiramente resumido como comédia romântica, ou comédia de relacionamentos, e o que acontece em produções do tipo é: “Homem conhece Mulher. Eles têm personalidades e estilos opostos, mas, depois de muitas brigas e complicações, descobrirão que se amam e vão tentar viver juntos.” Como se pode perceber, não é nada diferente de metade dos projetos cujos atores são a Meg Ryan ou o Hugh Grant. O detalhe é que aqui temos Gena Rowlands e Seymour Cassel.
E são as personagens desses dois, Minnie – moça bonita, loira, protestante, segura de si, inteligente, sofisticada, recatada – e Moskowitz – homem estranho, deselegante, judeu, grosso, passional e detentor de um dos bigodes mais feios da história da sétima arte –, que servirão de base para a trama romântica e, principalmente, para o que o diretor norte-americano quer comentar nas entrelinhas, como mostra o diálogo transcrito parágrafos acima.
O que importa, na verdade, não é discutir se os dois vão ficar juntos, se realmente se amam, mas sim debater sobre os mecanismos enganadores do Cinema e sobre como eles atuam no nosso julgamento do dia-a-dia, inclusive ao assistir um filme romântico. Porque é tão difícil e irreal aceitar alguém como Moskowitz enquanto pessoa ideal para Minnie, se muitas vezes acabamos aceitando, e esperando, que um príncipe encantado (ou princesa encantada, vá lá) – mais irreal que o personagem de Cassel – exista de verdade e apareça do nada, logo depois de uma esquina qualquer do bairro? Mudando de tema, porque tentar agir “cool”, imitando um estilo de um determinado ator/personagem, ao invés de tentar ser sincero em relação aos próprios princípios?
Cassavetes agora repassa para o espectador questões que antes eram importantes apenas para os personagens principais de seus filmes: As máscaras, o escudo protetor, como agir em sociedade. E o faz em filme mais calmo, mais light, que pouco tem a ver com seus trabalhos anteriores. É ai que mora o principal problema do trabalho.
É uma comédia, cheia de entrelinhas, de referencias, mas, ainda assim, é uma comédia, e a mão de Cassavetes é pesada demais para isso. Apesar de tentar uma narrativa mais leve, com várias piadas que variam do dialogo rápido até as gags físicas, o filme acaba ficando em um meio termo perigoso, quase perto do drama, fazendo com que certas situações não funcionem e outras acabem mal desenvolvidas. A tal discussão sobre Cinema, noção de realidade e comportamento, nunca passa daquilo dito pela personagem de Rowlands, e todo o desenrolar do filme soa como redundância do monologo, ao invés de complementá-lo.
Alguns autores como Ray Carney botam Assim Falou o Amor (Minnie and Moskowitz; 1971) dentro de uma suposta trilogia do casamento, junto com Uma Mulher sob Influência e Faces, que mostra todas as fases do relacionamento conjugal, do conhecimento inicial até o seu fim, mas acredito que isso é limitar demais os trabalhos do diretor e as temáticas para além do roteiro que todos abordam. “Minnie...” parece muito mais uma preparação para o que vai ocorrer nos próximos projetos, onde a noção de “casamento” se torna bem maior do que “estar junto oficialmente com alguém”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário