O Enigma de Kaspar Hauser (Jeder für sich und Gott gegen alle - Werner Herzog, 1974) conta a história de um homem que é encontrado na praça de uma cidade, sem nome, sem saber falar quase nada, e sem saber ler ou escrever, apenas com uma carta na mão. O fato ocorreu na Alemanha, no século XIX, e Herzog se baseou nos documentos da época para escrever seu filme. Nunca foi esclarecida a origem do homem, ou qualquer outra coisa do seu passado, assim como sua morte, que foi envolta em mistério. Embora a vida de Kaspar Hauser seja bastante diferente do que é mostrado no filme, não nos interessam as diferenças semióticas entre os fatos e o filme, nos interessa, apenas, a obra em si.
O filme é romântico, não no sentido comum, de se tratar de um romance nos moldes de Romeu e Julieta. É romântico por tratar da história de forma romantizada, elevando o espírito de Kaspar Hauser, uma criatura simples e humilde, que sofreu tanto na vida ao ponto de não poder se relacionar normalmente com outros seres humanos.
Kaspar começa sua vida livre sem entender o mundo e, aos poucos, vai aprendendo a falar, a se relacionar com as outras pessoas, a ler, a escrever, e até a tocar piano. No começo, as dificuldades são muitas, principalmente por não ter uma pessoa capaz de ensiná-lo, todos tentam ensinar coisas complexas, vendo nele um homem, e não uma criança. Nesse início de filme, principalmente, as imagens de animais presos são abundantes. Uma vaca presa a uma árvore por uma corda, cavalos presos num estábulo, um passarinho preso numa gaiola, galinhas presas em cercas, todas essas imagens se unem para determinar o modo como Kaspar viveu, sempre preso, mas também para ilustrar o mundo como prisão, como um todo. Quando finalmente um professor capaz toma Kaspar como aluno, ele se desenvolve, e começa a viver. Há vários momentos belos e alguns até engraçados no filme. As frases de Kaspar são memoráveis, bem como vários de seus momentos. A cena com as maçãs, a fuga da igreja, a negação de um Deus inerente ao homem, a solução do problema de lógica, todos esse momentos compõem a verdadeira força do filme: o texto.
Mesmo sendo o texto o melhor do filme, não podemos deixar de admirar as belas imagens de Herzog, a sempre ótima escolha da trilha sonora, com belas músicas eruditas, e a direção firme e calmamente emotiva, sem os exageros que uma história desse tipo proporcionaria nas mãos de outro cineasta menos preparado.
Nas mãos de Herzog, Kaspar Hauser se torna uma personagem muito mais interessante do que provavelmente foi, com suas histórias bastante peculiares, e seus momentos de profundidade filosófica disfarçada de idiotice. A melhor das histórias de Kaspar é a última, sabiamente deixada para o final por Herzog. Em seu leito de morte, Kaspar diz que quer contar uma história que ele inventou, mas que ele só sabe o começo, não sabe como termina. Ele então conta a história, que resumo agora. “Uma caravana atravessa um deserto em direção a uma cidade, mas se depara com várias montanhas. O líder da caravana, um cego, pega um pouco de areia e come. Ele diz então aos outros que aquelas montanhas são uma ilusão, que elas não estão ali. Eles continuam o caminho, e chegam à cidade.” Kaspar, então, finaliza dizendo (com outras palavras): “eu não sei o final da história, só sei até quando eles chegam na cidade. O que acontece na cidade, eu não sei.” O enigma de Kaspar Hauser, mesmo depois de sua morte, continua, mas o que acontece depois que ele morre não interessa. A história não acaba, mas não precisa continuar a ser contada.
O filme é romântico, não no sentido comum, de se tratar de um romance nos moldes de Romeu e Julieta. É romântico por tratar da história de forma romantizada, elevando o espírito de Kaspar Hauser, uma criatura simples e humilde, que sofreu tanto na vida ao ponto de não poder se relacionar normalmente com outros seres humanos.
Kaspar começa sua vida livre sem entender o mundo e, aos poucos, vai aprendendo a falar, a se relacionar com as outras pessoas, a ler, a escrever, e até a tocar piano. No começo, as dificuldades são muitas, principalmente por não ter uma pessoa capaz de ensiná-lo, todos tentam ensinar coisas complexas, vendo nele um homem, e não uma criança. Nesse início de filme, principalmente, as imagens de animais presos são abundantes. Uma vaca presa a uma árvore por uma corda, cavalos presos num estábulo, um passarinho preso numa gaiola, galinhas presas em cercas, todas essas imagens se unem para determinar o modo como Kaspar viveu, sempre preso, mas também para ilustrar o mundo como prisão, como um todo. Quando finalmente um professor capaz toma Kaspar como aluno, ele se desenvolve, e começa a viver. Há vários momentos belos e alguns até engraçados no filme. As frases de Kaspar são memoráveis, bem como vários de seus momentos. A cena com as maçãs, a fuga da igreja, a negação de um Deus inerente ao homem, a solução do problema de lógica, todos esse momentos compõem a verdadeira força do filme: o texto.
Mesmo sendo o texto o melhor do filme, não podemos deixar de admirar as belas imagens de Herzog, a sempre ótima escolha da trilha sonora, com belas músicas eruditas, e a direção firme e calmamente emotiva, sem os exageros que uma história desse tipo proporcionaria nas mãos de outro cineasta menos preparado.
Nas mãos de Herzog, Kaspar Hauser se torna uma personagem muito mais interessante do que provavelmente foi, com suas histórias bastante peculiares, e seus momentos de profundidade filosófica disfarçada de idiotice. A melhor das histórias de Kaspar é a última, sabiamente deixada para o final por Herzog. Em seu leito de morte, Kaspar diz que quer contar uma história que ele inventou, mas que ele só sabe o começo, não sabe como termina. Ele então conta a história, que resumo agora. “Uma caravana atravessa um deserto em direção a uma cidade, mas se depara com várias montanhas. O líder da caravana, um cego, pega um pouco de areia e come. Ele diz então aos outros que aquelas montanhas são uma ilusão, que elas não estão ali. Eles continuam o caminho, e chegam à cidade.” Kaspar, então, finaliza dizendo (com outras palavras): “eu não sei o final da história, só sei até quando eles chegam na cidade. O que acontece na cidade, eu não sei.” O enigma de Kaspar Hauser, mesmo depois de sua morte, continua, mas o que acontece depois que ele morre não interessa. A história não acaba, mas não precisa continuar a ser contada.
2 comentários:
Esse filme é lindo, é tocante... Kaspar Hauser é uma personagem cativante, com toda sua pureza e ingenuidade.
muito lindo esse filme,mostra a inteligência de uma pessoa que teve sua vida presa...
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