“Se o filme (A Chinesa) se fechar completamente no cinema e não dialogar com os militantes, é porque o filme é ruim e reacionário”.
Jean-Luc Godard
O ano de 2008 marca o aniversário de 40 anos de um movimento cultural que eclodiu na França no final do verão europeu, o Maio de 68, que, diga-se de passagem, não começou efetivamente nesta data. O movimento estudantil francês tomava frente junto aos atos de rebeldia e transgressões que sacudiram o país (invasão das universidades de Nanterre e Sorbonne), com o apoio de intelectuais das mais variadas vertentes políticas e culturais – estudantes enfrentavam a polícia, trabalhadores entraram em greve protestando contra as políticas trabalhistas e estudantis do governo.
A França estava incandescente e era um cenário real do que ocorria no mundo: havia a Guerra do Vietnã, a divisão do mundo em dois blocos econômicos, os governos totalitários em conseqüência da Guerra Fria, entre outros acontecimentos. Enfim, esta era a conjuntura política e intelectual que deu formato à efervescência política e cultural e às manifestações estudantis, trabalhistas e artísticas. Em que pese o campo das artes, especialmente o cinema, houve um prelúdio com a crise da reconhecida Cinemateca Francesa, que ocorrera em fevereiro do mesmo ano, quando Henry Langlois, fundador e diretor da Cinemateca, teve seu cargo ameaçado pelo Ministro da Cultura do presidente francês Charles de Gaulle. A demissão se consumou por intermédio do conselho da cinemateca e principalmente pelo pedido do ministro André Malroux.
O fato despertou o repúdio de cineastas como François Truffaut, que, na época, estava dirigindo Beijos Proibidos (1968). Antes, toda essa movimentação que permeava a França, uma produção cinematográfica que se sobressaía, já era suficiente para retratar todo o ideário do que vinha ocorrendo
Após Week End (1967), o cineasta investia sua formação como grande teórico na realização de filmes que pregavam um cinema de cunho independente e político, fundando, em 1968, o Grupo Dziga Vertov, que durou até 1972. Essa fase da filmografia de Godard é marcada pelo experimentalismo, com filmes de difícil abstração, sem narrativas lineares, que priorizavam as reflexões sobre a arte, além de certa visão niilista de mundo, realmente nada otimista, tendo em vista o período histórico vivenciado.
Mesmo sendo realizado um ano antes da eclosão do maio de
Um aspecto relevante no filme é o uso da câmera na condução da narrativa não-convencional, utilizando planos onde seus personagens respondem questões propostas pelo próprio Godard (como um narrador em off), fazendo com que eles olhem direto para a câmera, como se estivessem dialogando com o expectador, em um estilo semi-documental. O filme é rico em citações e referências – não só políticas, mas também literárias e cinéfilas. Há Sartre, Marx, Althusser, Lumière, Eisenstein.
O estranhamento na condução do filme é a principal ousadia de Godard. Os personagens Veronique (Anne Wiazemsky, a companheira do cineasta depois que ele se separou de Anna Karina, musa de seus primeiros filmes), o ator Guillaume (Jean-Pierre Léaud, "alter ego" de François Truffaut da pentalogia do personagem de Antoine Doinel, um dos ícones das Nouvelle Vague), o economista Henri (Michel Semeniako), o pintor Kirilov (Lex De Bruijn) e a prostituta Yvonne (Juliet Berto, que teve um caso com Glauber Rocha e trabalhou em "Claro", que o cineasta brasileiro realizou durante o seu exílio na Itália nos anos 70), dividem um apartamento onde debatem suas concepções de mundo por um prisma esquerdista, em crítica explícita ao Partido Comunista Francês.
“O Imperialismo é um tigre de papel”.
Mao Tsé-Tung
5 comentários:
ótimo texto.
tenho impressão, no entanto, que 'política estudantil' só pode dizer respeito à política dos estudantes, portanto, fica estranha a expressão 'política estudantil do governo'. acho que seria mais adequado 'política educacional'.
Ficou uma coisa, uma coisa! :D
Abraços, povo!
Eu vi A CHINESA na Casa de Cultura e há quase 15 anos.
Foi uma verdadeira lavagem cerebral.
Saudade dos ciclos da Casa de Cultura que já forma melhores.
Tem razão Anakan.
'Política educacional'é mais adequado.
O texto tá informativo paca.
Postar um comentário