25 de jun. de 2008

Maio de 68: "GRANDS SOIRS & PETITS MATINS"


“A França de 1968 não é a Petrogrado de 1917, o nível político é muito mais elevado, os meios de comunicação de massas permitem uma transmissão da informação… Lenin não tinha rádio, nem dava entrevistas ao vivo.”

Daniel Cohn-Bendit



O documentário Grands Soirs & Petits Matins, do diretor William Klein, é um importante registro histórico do famoso “Maio de 68. Com a câmera no ombro, Klein se dedicou durante esse largo mês a filmar várias discussões, debates e acontecimentos da revolução, ficando claro desde o princípio sua real intenção: afirmar que esteve ali.

O diretor, consciente da repercussão histórica do momento, procurou passar-nos o clima que se vivia em Paris por meio das muitas imagens das passeatas estudantis, dos debates entre civis, obreiros ou estudantes e discursos dos dois protagonistas do acontecimento: Daniel Cohn-Bendit ou “Dani, o Vermelho”, principal tutor da greve estudantil universitária, e o general e governador do país na época, Charles De Gaulle.

Em nenhum momento se tem uma posição sobre os fatos, Klein se preocupa apenas em registrar. Para os menos informados, isso pode gerar uma confusão, a falta de enredo e conexão entre as imagens em uma narrativa nada convencional, até mesmo para documentários, que sempre procura situar-nos utilizando narradores ou largos textos explicativos. No entanto, é suficiente para as intenções dele – passar o espírito do “maio de 68. De imagem em imagem nos oferece a dimensão real e nos ambienta naquele momento: as revoltas e atitudes radicais - como a destruição de ruas parisienses -, o confronto com os policiais, os principais questionamentos - como os fundamentos dessa revolução e sua validez –, a falta de consenso com a classe operária e o local central dos protestos, a universidade de Sorbonne.

Ademais, para os engajados, este registro é um prato cheio. Ver e sentir-se presente em um momento de efervescência política e cultural daquele país, mobilizado pelos estudantes, burgueses ou não, lutando por direitos que, apesar de banais à primeira vista, estão relacionados por uma causa, motivando uma posição política, seja ela anárquica ou de extrema-esquerda.

É quando passam as imagens dos discursos de Cohn-Bendit que mais sentimos o espírito buscado por Klein, o espírito que motivou milhares de estudantes e fortaleceu a classe operária em suas reivindicações, causando muito dano em seu momento ao governo francês, que poderia ter caído se não concedesse boa parte dos direitos exigidos, retratado no filme com as declarações de De Gaulle e do então primeiro-ministro, Georges Pompidou.

Grands Soirs & Petits Matins prova que uma imagem pode valer mais que mil palavras (ou letras) e Klein, que imagem é registro, e registro é memória. Sendo assim, o espírito do “Maio de 68” estará sempre presente, pronto para reencarnar.



“Jornalistas da imprensa burguesa, não manipulem muito minhas palavras. O que disse é pouco e simples, praticamente não disse nada. Então, não vale a pena inventar.”

Daniel Cohn-Bendit

2 comentários:

Anônimo disse...

Não conheço o filme. Vou ver se o encontro.

Alessandro de Paula disse...

Algo a se correr atrás, sem dúvida!

 
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